quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Lady and a Tramp

Esse filme é um clássico adorado por muitos, mas que nunca gostei muito. Sempre me incomodou um pouco. Agora acho que entendi o motivo. Esse filme é um filme extremamente humano, e quando digo isso não me posiciono contra a personificação de animais em desenhos animados. A questão toda é, por que não é desenhada como uma história de humanos?
Existem outras animações com personificação de animais, como Vida de Insetos. A questão toda é Vida de Insetos é muito próximo de todas as animações com humanos, como Aladdin etc. O filme trata de uma pessoa com uma falha ou uma posição não muito boa, mas com ideais e posicionamentos elevados. Independente da pobreza, mesmo que tenha um interesse por trás (afinal sempre temos), Aladdin é um justiceiro e um idealista. Assim também a formiguinha que não lembro o nome, que trata de questões como quebra de barreiras sociais, mas por valores.
A Dama e o Vagabundo não se parece em nada. A Dama não é uma personagem, como Jasmim, que quer algo mais da vida. Que quer liberdade ou uma vida melhor. O que ela quer é continuar com suas regalias gratuitas, e aí entra a idéia do cachorro. Representar os personagens como cachorros foi uma saída para tornar personagens fracos em personagens queridos. Uma personagem como Lady, sendo humana, teria que, no mínimo, ter um ato heróico a favor de seu amado para provar que se redimiu de sua fraqueza de personalidade. Sendo uma cadela, para mim no sentido mais amplo, ela é sempre uma vítima inquestionada. Ela não precisa fazer nada além de ser fofinha para ter comida, lar e, mesmo depois, que as pessoas se sacrifiquem por ela. Isso por ser uma Lady de natureza, como se isso fosse uma questão de nascença. Estão vendo aí a diferença? Ela não seria uma personalidade forte como as princesas Disney ou um clichê total como a Branca de Neve, mas que ninguém critica por ela nunca ousar fingir ser mais que um sonho de vida perfeita. A Lady vem trazer para uma história mais próxima, do nosso cotidiano, uma série de preconceitos e injustiças sociais que sequer são expostas como uma realidade do mundo, mas como um benefício de nascença. Ela é uma representação de uma cortesã no mundo burguês.
Eu simplesmente detesto o papel de eterna vítima dela, mas outras questões me chamaram a atenção. Sempre vi o filme como um romance entre classes diferentes. Comecei a me questionar se era isso mesmo por duas questões. Inicialmente comecei a ver como ela é imatura e o Vagabundo é bem mais maduro. Então comecei a achar que não era só uma questão de Rica-Pobre, mas também uma questão de idade. O Vagabundo não sugere ser velho, por assim dizer, mas sugere ser consideravelmente mais velho que Lady. Outra questão é a clareza dele sobre a situação e sobre a realidade social dela e a educação e polidez dele. Isso sugere que, mesmo vivendo como vagabundo, ele não só viveu antes com uma família, mas possivelmente viveu com o mesmo status que Lady. Ele não é um personagem de ideais. Ele não denuncia ter saído do lar por um posicionamento. Ele fugiu do problema. Ele não é nenhuma personalidade ideológica em si. Ele deveria ser o personagem principal, já que sua história é muito mais interessante. Essa estória, no entanto, não seria uma estória de vencer barreiras, mas uma estória de um personagem que fugiu diante da dificuldade e, por uma questão de sorte e por ter sabido aproveitar a oportunidade e as fantasias românticas ingênuas de Lady, conseguiu uma segunda chance.
E, para concluir, o romance é um romance sem fundamento. Novamente fazem um romance de ações. Isso quer dizer, à medida que o Vagabundo faz coisas por ela, ela é mais grata e por isso ficam juntos. Essa formula é uma fórmula que não promete dar certo e a melhor coisa que fazem é cortar com um "E foram felizes para sempre". Se não fossem assim, iriam denunciar como dois estilos de vida tão diferentes tendem a gerar muito mais problemas que soluções.


PS: Esclarecendo, antes de mais nada: eu gosto de A Dama e o Vagabundo. Só é que parece que todo mundo gosta muito mesmo, e eu nem tanto.


Listal: Mantive o 8.0 por ser clássico Disney.

4 comentários:

  1. Simplifica Fábio, ela é uma cadela e não um ser humano, e não acho que a idéia era transfomá-la em um ser humanos, mas sim fazer com que as crianças entendessem a história.

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  2. Pronto, eu escrevi o comentário no post seguinte sem ver essa resenha de Fábio. Taí tudo que penso sobre ela ser uma princesa...
    E cá pra nós, um pouco de reflexão não faz mal a ninguém. Alienação só é boa em doses restritas.

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  3. To cansada de analisar tudo, não anda me levando a lugar nenhum, agora eu quero o simples, pra mim, tá bom, ótimo na verdade, ser simples. Analisar só nos faz chegar à belissima conclusão de que as coisas não andam valendo muito a pena.

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  4. Não se fruste, Blake. Não é minha intenção tirar a afeição de ninguém por um filme que lhe é querido. Entenda que o que estou analisando aqui é muito mais eu mesmo que o filme. Não acho que o filme realmente tenha essa complexidade toa. Simplesmente nunca consegui expressar o motivo de eu não ser empolgado por esse filme, uma vez que todos adoram ele. Por isso, eu tentei buscar o problema no filme comparando ele a outros que eu adoro, também desenhos Disney. Não ouso dizer que nada disso seja uma verdade porque muita coisa é pura suposição. Mas estava tentando vasculhar o motivo dessa minha falta de empolgação com o filme. Talvez, uma vez que eu consegui expressar, eu comece até a gostar mais, quem sabe?

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