segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sinédoque, Nova Iorque

Bem, que Charlie Kaufman é meu roteirista predileto, já é fato desde Adaptação. Porém acho que o salto para a direção foi um tanto brusco. Se em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança e em Adaptação ele não tinha a autonomia para fazer de sua obra algo completamente pessoal, eram filmes que permitiam que o público viajasse em suas rotas introspectivas, nesse o elo entre filme e público ficou meio perdido. Não me refiro a Quero Ser John Malkovich porque, desse filme, não tenho nada a declarar. Senti que era um filme bastante interessante, mas não captei.
Voltando, Kaufman com a faca e o queijo na mão significa, ou significou nesse caso (espero que haja uma evolução com o tempo), que muito poucos poderiam tirar uma mordida. Sinceramente, não me incluo nesse grupo, mas não acho que seja um problema esse tipo de arte mais pessoal. Porém, temo porque ele não lida com filmes de baixo orçamento, mas com a grande indústria do cinema. Se não tiver público para reverter o custo de suas obras em retorno financeiro, temo que ele seja riscado da lista de investimentos.
Então, parando de falar sobre como não quero que Charlie Kaufman pare de fazer filmes, vou iniciar com as coisas óbvias. O filme é iniciado em um ambiente familiar artístico. No entanto, Caden e sua mulher não compartilham de nada além de uma casa e uma filha. Ele, enquanto artista introspectivo, niilista, neurótico e hipocondríaco, aos poucos tem sua imagem refletida pela filha pequena, que tem preocupações com a saúde que não são naturais de sua idade. Até aí, está tudo claro. Até porque Kaufman entrega o jogo quando ela se senta para o desjejum e se recusa a comer cereais, optando por um sanduíche igual ao do pai (que olha para ela, reconhece a semelhança e sorri).
A mãe, por outro lado, é uma artista de miniaturas (é necessário o uso de lentes de aumento para enxergar seus quadros) e possui uma filosofia de vida muito mais expressiva e extravagante. Possui uma grande amiga que fala para Caden, em certo momento, que não interessa se gostem de sua obra, mas a sua (de Caden) satisfação artística. Nesse ponto é colocada a contradição, onde ele, em sua introspecção, tenta se expressar para o mundo e espera a apreciação. Elas, por sua vez, estão fazendo a arte na busca da satisfação pessoal. A peça de Caden, para as duas, é sofrível. Ele, porém, não deixa claro o que acha das obras da mulher, que o deixa, levando a filha consigo.
Depois disso, vem uma enorme e massante história sobre a produção da peça que ele inicia com a verba de um fundo de incentivo a grandes artistas. Acho que à partir daí, a obra toma outro nível de compreensão. Deixa de ser uma realidade para ser uma visão artística de Caden sobre o mundo. Ele se relacionou, então, sem nunca conseguir ter relações sexuais, com uma assistente que compra uma casa "pegando fogo que nunca é consumida" (grande metáfora para...bem, não sei pra que. Se alguém souber, me diga, por favor! Como comecei a enxergar como se fosse a leitura dele do mundo, até me passou pela cabeça se ele, presunçosamente - ele não era um artista humilde - não achava que ela o desejava tão intensamente. Isso porque, só quando eles finalmente fizeram sexo, ela morreu asfixiada em sua casa, já idosa. Mas não acho realmente que seja isso...e nem sei se não deveria apagar esse comentário. Já estou vendo quem ler isso rindo da interpretação ridícula rsrsrsrs). Depois se casou com a atriz principal de sua peça. Com o passar dos anos, o galpão escolhido para sediar a peça não parecia em nada com um teatro, mas com uma replica perfeita da cidade de nova iorque. Seus personagens, trabalhados de forma desgastante por mais de 17 anos, tentam se aproximar do que ele considera a essência dos personagens e têm um objetivo platônico de alcançar a perfeição. Nessa brincadeira, onde a arte imita a vida, a vida também passa a imitar a arte, quando surge um personagem que interpreta e substitui Caden quando necessário, após passar 20 anos o observando. Então, começa uma briga de alter-egos durante o filme, onde a peça deixa de estar sobre o controle do diretor, e passa a se auto dirigir. Porém, a autodireção da peça tende à fazer dela parte do cotidiano...o que é óbvio, nunca será uma peça real, para apresentação do público, por nunca estar completa.

Nota no Listal: 7.0

Um comentário:

  1. Fabio realmente vc é uma pessoa com uma mente superior... mas como eu não sou continuaria com o meu breve comentário!

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